A dura realidade da reabilitação pós-AVC em Portugal

Quando alguém sobrevive a um Acidente Vascular Cerebral (AVC), a maior parte das pessoas acredita que o pior já passou. Mas, para quem vive na pele as sequelas de um AVC, o verdadeiro desafio começa precisamente depois da alta hospitalar.

A reabilitação é essencial para recuperar capacidades motoras, cognitivas e emocionais. No entanto, em Portugal, a realidade é dura: a maioria dos sobreviventes não tem acesso continuado à reabilitação necessária para voltar a ter qualidade de vida.

O que diz a lei?

O Sistema Nacional de Saúde prevê o acesso a cuidados de reabilitação, mas na prática são muitos os sobreviventes que ficam esquecidos nas listas de espera ou são referenciados para poucas sessões, muito aquém das necessidades reais.

O mito do plateau :

Muitos sobreviventes ouvem, ainda cedo na reabilitação, a temida frase: “Você já não vai evoluir mais”. A isto chama-se o “plateau”. Mas a neurociência já provou que o cérebro tem capacidade de adaptação (neuroplasticidade) durante toda a vida. O problema não está no corpo ou no cérebro, está na falta de continuidade da reabilitação.

As consequências de um sistema que falha

Quando não há acesso à reabilitação, as sequelas agravam-se, a dependência aumenta e a qualidade de vida do sobrevivente e da família diminui drasticamente. Muitos acabam por desistir de tentar, acreditando que não há alternativa.

Uma reflexão necessária

Há um trabalho de esclarecimento que continua por fazer. Crescemos a confiar que, quando algo grave acontece, o sistema de saúde vai resolver. Mas a verdade é que a recuperação após um AVC exige tempo, exige recursos e exige um papel ativo do próprio.

Quando olhamos para o tempo que uma criança demora a aprender a movimentar-se com plena consciência, percebemos o óbvio: reaprender depois de um AVC também leva anos. E isso custa dinheiro, dedicação e ferramentas adequadas.

O verdadeiro propósito da reabilitação é devolver autonomia. E isso significa mais do que andar ou falar — é poder tomar banho sozinho, ir à casa de banho, preparar uma refeição. Sobreviver com independência.

Mas há muito mais que o próprio precisa de fazer por si. Resgatar a capacidade de se desafiar, de criar, de voltar a sentir-se útil e capaz. Essa resiliência, que tantas vezes já não existia antes do AVC, torna-se essencial nestas situações.

É isso que procuramos com o programa De Dentro para Fora: contribuir para que cada pessoa possa reencontrar a força interior que nunca desapareceu — apenas foi silenciada pelo medo, pelo cansaço ou pela dor.
Essa força está lá, mesmo quando parece adormecida. E, com o tempo certo, pode voltar a iluminar o caminho.

O que podemos (e devemos) exigir

Porque sobreviver a um AVC é só o primeiro passo. O que acontece depois define, de facto, a vida de quem fica.

Se este tema te toca, partilha. A mudança começa quando olhamos para o pós-AVC com olhos de ver.

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