Fecha os olhos por um momento e imagina: um fio de água a correr sobre a tua pele. Consegues sentir a sua temperatura? A pressão? O deslizar?
Para muitos sobreviventes de AVC, estas perguntas não têm uma resposta imediata. A água está lá… mas a sensação pode ser distante, distorcida ou até inexistente.
O AVC pode alterar a forma como o nosso cérebro interpreta os sinais do corpo. Um simples toque, a diferença entre quente e frio, ou a leve pressão de uma gota de água, podem transformar-se em sensações confusas — ou desaparecer por completo. Isto não significa que o corpo deixou de sentir; significa que a comunicação entre o corpo e o cérebro precisa de ser reaprendida, fortalecida e refinada.
Na Yogaterapia Pós-AVC, exploramos formas de reconectar com estas sensações. O contacto com a água é uma delas. Pode ser um exercício simples, mas poderoso:
- Deixar a água escorrer lentamente sobre as mãos e observar cada detalhe — temperatura, peso, som.
- Colocar as duas mãos sob a mesma corrente de água: a que não foi afectada e a que foi afectada. Sentir as diferenças sem julgamento.
- Permitir que uma mão ensine a outra, trazendo consciência, memória sensorial e novas mensagens para o cérebro.
- Mergulhar os pés em água morna e depois em água fresca, notando as diferenças.
O sentir é tal e qual como o andar: é preciso treinar e repetir para reaprender. Cada tentativa, cada momento de atenção, é um passo nesse caminho.
Estes pequenos gestos ativam não só a pele, mas também o mapa sensorial no cérebro, estimulando a neuroplasticidade — a capacidade que o cérebro tem de criar novas ligações e caminhos.
Sentir a água não é um um exercício físico: é um convite à presença. É estar ali, naquele instante, sem expectativas. É dar ao corpo tempo para reencontrar a sua própria linguagem.
Se um dia a água te parecer “longe”, lembra-te: cada gota é uma oportunidade de reconexão. Sente-a, com paciência e curiosidade. O corpo e o cérebro, juntos, aprendem de novo.