Respirar. Parece simples, automático. E é. Mas depois de um AVC, até o que parecia simples se transforma. O corpo pode estar tenso. A mente em alerta. O descanso, esse, parece fugir por entre os dedos.
Muitas pessoas que passaram por um AVC dizem que é difícil desligar. Que mesmo quando o corpo está deitado, a cabeça não para. Ou o contrário: o cansaço é tanto que a mente quer descansar, mas o corpo está sempre em estado de tensão. Relaxar deixa de ser natural. Passa a ser um desafio — às vezes até dá medo.
Mas aqui está uma verdade que não podemos ignorar: o relaxamento é essencial para a recuperação.
Por que é tão difícil relaxar depois de um AVC?
O sistema nervoso de quem sobreviveu a um AVC fica muitas vezes preso num estado de hipervigilância. O corpo sente-se em perigo — mesmo quando já está seguro. Músculos contraídos, respiração fica mais limitada, pensamentos em espiral. Este estado não é sinal de fraqueza. É uma resposta natural de um corpo que passou por um trauma.
Só que, para curar, o corpo precisa de outra resposta.
Relaxar é reprogramar o sistema nervoso
Aprender a respirar de forma consciente é um passo para essa reprogramação. Quando treinamos a respiração, estamos a ensinar o corpo que pode parar de lutar, que pode baixar a guarda. Isto não é desistir. É recuperar espaço interno para que o corpo e o cérebro se possam reorganizar.
É no relaxamento que:
- o sistema nervoso entra em modo de regeneração;
- a plasticidade cerebral encontra terreno fértil;
- a dor pode diminuir;
- a consciência corporal pode florescer.
E tudo começa com a respiração.
Prática guiada: respiração para relaxar
Nota: coloca um despertador para um tempo que te pareça razoável (por exemplo, 5 ou 10 minutos). O objetivo é manter-te acordado(a), presente.
Esta prática não tem um horário fixo. Podes fazê-la mais do que uma vez por dia.
Podes criar o hábito de a fazer ainda na cama, ao acordar, ou à noite, antes de dormir.
Ou em qualquer momento em que sintas que o corpo precisa parar.
Faz ao teu ritmo. A prática é sempre tua.
Estás a reaprender. Está tudo bem.
- Deita-te de costas numa posição confortável.
- Pernas afastadas à largura dos ombros, pés a tombar para os lados.
- Braços ligeiramente afastados do corpo, palmas das mãos viradas para cima.
- Queixo suavemente recolhido.
- Fecha os olhos e nota como estás agora. Sem julgar.
- Começa a observar a tua respiração natural.
- Aos poucos, tenta que a expiração fique um pouco mais longa que a inspiração.
- Se inspirares em 3 tempos, expira em 4. Se fores capaz de fazer mais, faz. Mas sem forçar.
- Mantém este padrão por 5 ciclos respiratórios.
- Depois, deixa a respiração voltar ao seu ritmo natural.
- Quando o despertador tocar:
- Percebe onde estás.
- Ouve os sons à tua volta.
- Nota algum cheiro, o paladar na boca.
- Mexe os dedos das mãos, os dedos dos pés.
- Espreguiça-te. Boceja, se te apetecer e sorri.
- Vira-te devagar para uma posição fetal.
- Abre os olhos.
- Com a ajuda das mãos, senta-te calmamente.
Pode ser que não sintas nada de especial. Pode ser que sintas um mundo.
Seja como for, fizeste algo precioso: deste permissão ao teu corpo para descansar.
Podes voltar a esta prática sempre que precisares.
Um momento de pausa pode ser o começo de muitas mudanças.
Espero que estejas bem.
Namaste. ❤🙏