O que fazemos com o que nos acontece é o que faz a diferença.
Há quem pense que a recuperação depois de um AVC depende apenas da fisioterapia, da medicação e do tempo. Esses fatores são fundamentais — a fisioterapia ajuda o corpo a reaprender e a medicação protege o cérebro de novos eventos. Mas o tempo, por si só, não cura nada. Cura o que fazemos com ele — a forma como participamos ativamente na própria recuperação.
É aí que entra o coping — uma palavra inglesa que significa “lidar com”. Em psicologia, é o nome dado às estratégias que usamos para nos adaptar a situações difíceis. Cada pessoa reage de forma diferente, e isso explica porque dois sobreviventes com lesões semelhantes podem ter recuperações completamente distintas.
🧠 O que é o coping no pós-AVC
Depois de um AVC, nada volta a ser igual. O corpo muda, a rotina muda, e o mundo parece continuar sem esperar por nós. O coping é o processo de reconstrução interna que começa quando tentamos responder à pergunta: “E agora, o que faço com isto?” Não é sobre negar o que aconteceu, nem sobre aceitar passivamente. É sobre aprender a viver com o que há — e agir a partir daí.
⚖️ Três formas de lidar
- Coping ativo — É quando a pessoa tenta compreender o que aconteceu e encontra formas de agir: participar na reabilitação, adaptar o dia a dia, pedir ajuda, procurar informação. 🟢 Está ligado a melhores resultados físicos e emocionais.
- Coping emocional — Foca-se nas emoções ligadas à perda e à mudança: medo, frustração, tristeza. Inclui práticas como respiração consciente, meditação, escuta ativa ou espiritualidade. 🟡 Ajuda a regular o sistema nervoso e a restaurar a motivação.
- Coping de fuga — É quando se tenta ignorar o que aconteceu ou fugir da dor. 🔴 Pode aliviar a curto prazo, mas bloqueia a recuperação a longo prazo.
🌱 O papel da Yogaterapia
Na Yogaterapia, o corpo é o primeiro lugar onde o coping acontece. Quando respiramos conscientemente, quando nos movemos com atenção, quando escutamos o corpo sem julgamento — estamos a criar espaço para novas respostas. A prática regular diminui o stress e a tensão muscular, aumenta a sensação de controlo interno e fortalece a capacidade de agir em vez de reagir. Pouco a pouco, o corpo aprende a confiar de novo — e a mente acompanha. O coping deixa de ser apenas uma luta para sobreviver e passa a ser uma arte de se reconstruir.
💬 Uma reflexão para terminar
Depois de um AVC, há um antes e um depois. Mas o que realmente importa é o que fazemos entre esses dois momentos. Podemos ficar presos ao que perdemos, ou podemos começar — um dia de cada vez — a descobrir o que ainda é possível.
Nem tudo volta a ser como era. Mas tudo pode voltar a ter sentido.